sexta-feira, 22 de junho de 2012

Liga para a Protecção da Natureza surpreendida com discurso de Passos Coelho na Rio+20


In "Público"
22.06.2012
Helena Geraldes

As afirmações do primeiro-ministro na conferência Rio+20, nesta quinta-feira, surpreenderam a Liga para a Protecção da Natureza (LPN) por contrastarem com as opções ambientais que o Governo está a tomar em Portugal.


“Assumimos hoje uma responsabilidade colectiva perante as gerações futuras. Falhar não é uma opção. E aqui não falhámos”, disse Pedro Passos Coelho no seu discurso no plenário da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável.

Hoje, a LPN diz-se surpreendida. “Estas afirmações contrastam com os resultados da conferência e principalmente com a actuação interna de Portugal a nível do Ambiente”, escreve em comunicado a direcção da mais antiga associação de defesa do Ambiente do país, criada em 1948.

A associação recorda uma lista de seis “processos contra o ambiente” em curso no país, que inclui a construção da barragem do Tua e do Sabor, o corte nos subsídios de apoio à instalação de equipamentos de energia renovável e as propostas de novas leis como a dos solos – “que visa eliminar os regimes de protecção e conservação da natureza” – e da arborização do país. Além disso, a LPN lamenta a “falta de apoio às áreas marinhas protegidas”, bem como os “cortes que levaram à total desorganização dos serviços de conservação da natureza em Portugal”. Da lista fazem ainda parte a “falta de apoio político e fiscalização efectiva das reservas e parques naturais” e as reformas nos licenciamentos industriais “que visam abolir todas as condicionalidades ambientais”.

A Liga espera agora que o Governo “reconsidere as opções que tem tomado” e “que se têm demonstrado absolutamente avessas ao desenvolvimento sustentável e à conservação da natureza”.

Sobre a Rio+20, a LPN também tem críticas a fazer, denunciando que termina “sem coragem política para resolver problemas que já são prementes, atirando todos a culpa para cima dos outros e rejeitando qualquer decisão palpável”



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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Recuperar a vida selvagem na Europa com as Reservas da Biosfera














Publicado no site: www.iucn.org04 Maio 2012
Traduzido por António Castelo

A Europa está actualmente a atravessar um período excepcional para a  recuperação da vida selvagem devido ao abandono, a larga escala, dos terrenos para a agricultura. Este fenómeno é particularmente notável nas áreas montanhosas do continente, que estão a resplandecer em natureza selvagem, robusta e resiliente. É a altura mais oportuna para a conservação da Biodiversidade na Europa.

A reintegração da vida selvagem traz novas oportunidades para a sociedade e para as pessoas que ainda vivem nos meios rurais, para fazerem a transição de uma economia de extracção de recursos, dependente, para uma economia de serviços baseada nos recursos naturais e selvagens. Contudo, sabendo que cerca de 50 por cento de todas as espécies europeias dependem de paisagens abertas ou semi-abertas, um dos maiores desafios é agora estimular os processos naturais que mantém essas paisagens no seu estado ideal: herbívoros selvagens, avalanches, vagas de insectos, vento, inundações, fogos de mato, etc.

No dia 26 de Abril estabeleceu-se um acordo entre a Autoridade da Reserva da Biosfera do Delta do Danúbio e a WWF-Roménia para trabalharem juntos na reintegração da vida selvagem na parte Romena do Delta do Danúbio. Este acordo teve início na nova iniciativa "Rewildind Europe", que lançou cinco grandes projectos de reintegração de vida selvagem em 2011.

Como uma primeira medida, um número de espécies chave, incluindo o castor e o veado, serão trazidos de volta para o Delta para funcionar como um arranque para processos naturais que desapareceram quase por inteiro. Sistemas de pastagens naturais serão promovidos, começando pela transladação de populações de cavalo selvagem. As duas comunidades de CA Rosetti e Sfantu Gheorghe na região exterior da região do Delta, que conjuntamente cobrem 70,000 hectares dos 580,000 da Reserva da Biosfera, serão apoiadas na implantação dos modelos de conservação da vida selvagem experimentados e desenvolvidos na Namíbia.

Estas espécies reintroduzidas, juntamente com a já espectacular variedade de pássaros, as paisagens únicas e a interessante cultura local, têm o potencial para criar novas fontes de rendimento para as comunidades. As últimas décadas têm visto as fontes tradicionais de rendimento provenientes da pesca e da criação de gado desvanecer, levando a um êxodo dos jovens e a um consequente envelhecimento da população. O trabalho de conservação vai conferir a estas comunidades um papel directo e claro na gestão de uma parte significativa do Delta - um princípio bem assente na filosofia da Reserva da Biosfera.

O Rewilding Europe está simultaneamente a trabalhar em outras Reservas da Biosfera - a Reserva East Carpathians, com 213.000 hectares, na fronteira entre a Polónia, Eslováquia e a Ucrânia, e na Reserva da costa do Adriático, na Croácia, com 200.000 hectares. Juntamente com a Western Iberia e a Southern Carpathians, o objectivo é re-instaurar processos naturais chave e assim permitir à natureza restabelecer áreas de dimensões na ordem dos 100.000 hestares, em mar e em terra, com o mínimo de intervenção humana. Com mais cinco áreas modelo ainda por identificar e instalar, a Rewilding Europe - uma iniciativa conjunta da WWF-Holanda, Fundação ARK Nature, Wild Wonders of Europe e Conservation Capital - estabeleceu o objectivo de recuperar a vida selvagem de pelo menos um milhão de hectares até 2020. Esta recuperação envolve a estimulação de processos naturais de transformação da paisagem sem ter uma visão concreta do resultado final. Uma paisagem que se mantém naturalmente e que é autosustentável para o futuro sem uma gestão humana activa é o objectivo final da Rewilding Europe.

O ressurgimento da vida selvagem está no centro deste projecto. Uma vida selvagem a prosperar é um elemento absolutamente fundamental para qualquer ecossistema saudável e sustentável, para além de uma factor de atracção e inspiração para as pessoas, e uma fonte de receitas para o desenvolvimento económico. Esta iniciativa vai fomentar um aumento da vida selvagem para densidades superiores às que hoje se verificam e vai permitir a re-introdução de espécies desaparecidas. Outro elemento-chave desta iniciativa é o incentivo para o estabelecimento de empresas orientadas para a conservação, utilizando os recursos selvagens como base de sustentação. A combinação de perspectivas inovadoras para a conservação, a comunicação em massa, e o desenvolvimento de empreendimentos nature-based atraiu já vários doadores privados e muitas ONGs.

As cinco áreas piloto seleccionadas cobrem já um espectro de diferentes formatos de conservação - parques nacionais, geo-parques, parques naturais, parques de paisagem, reservas da biosfera, Sítos RAMSAR, Sítios Património Mundial da UNESCO e rede Natura 2000 - o que transmite claramente que este conceito se pode aplicar independentemente do estatuto de protecção do local. Estas áreas protegidas estão normalmente inseridos em áreas onde o abandono de terras está neste momento a acontecer numa grande escaa e onde o ressurgimento da vida selvagem trás oportunidades novas para a conservação e o desenvolvimento local.

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terça-feira, 5 de junho de 2012

Economia verde pode gerar entre 15 a 60 milhões de empregos

31.05.2012
Ricardo Garcia


Não há dia em que não se ouça dizer que o ambiente é uma pedra no sapato da economia. Estes números dizem, porém, o contrário: a chamada “economia verde” pode gerar 15 a 60 milhões de novos empregos nos próximos 20 anos.

A estimativa resulta de uma análise feita pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e leva em conta os postos de trabalho criados em vários sectores, como o das energias renováveis, da eficiência energética ou da reciclagem.

O estudo admite que, com a transição para a economia verde, alguns vão ter de mudar de emprego. Mas trata-se de um número “gerível” – nos países desenvolvidos, será de um por cento da força de trabalho. “As preocupações sobre a perda de empregos na economia verde são, por isso, exagerados”, conclui o estudo, realizado no âmbito da Iniciativa Empregos Verdes, que envolve também outras agências da ONU.

A economia verde já está a dar sustento a milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, segundo o relatório, há 3,1 milhões de trabalhadores (2,4%) a prestarem serviços ou produzirem bens na área do ambiente. No Brasil, são 2,9 milhões (6,6%). Só no sector das renováveis, trabalham, no mundo todo, cinco milhões de pessoas. E a área da biodiversidade criou quase 15 milhões de empregos directos e indirectos na Europa.

Entre o dever e haver, as projecções apontam para um ganho positivo de 0,2% a 2,0% no número de empregos globais – ou seja, mais 15 a 60 milhões de postos de trabalho.

A economia verde, e como esta via pode ser a solução para pobreza no mundo, é o tema central da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, que terá lugar no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de Junho. A OIT dá exemplos desta ligação – como a utilização de práticas mais eficientes e com menor impacto por parte dos 400 milhões de pequenos agricultores nos países em desenvolvimento, ou a integração, na fileira da reciclagem, de milhões de “catadores” de lixo das grandes cidades. Ao benefício ambiental soma-se o aumento da produção e do rendimento.

O foco da Rio+20 sobre a economia verde não é pacífico. Vários países e organizações têm-se mostrado reticentes, invocando argumentos contra a mercantilização do ambiente e contra a ingerência externa no padrão de desenvolvimento de cada nação.

“A sustentabilidade ambiental não é assassina os empregos, como normalmente se diz. Pelo contrário, se gerida adequadamente, pode levar a mais e melhores empregos, à redução da pobreza e à inclusão social”, afirma, no entanto, Juan Somavia, director-geral da OIT, citado num comunicado da organização.

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