De corpo comprimido lateralmente e com olhos que se podem mover de forma independente, o camaleão-comum (Chamaeleo chamaeleon) é um dos répteis ibéricos mais surpreendentes e apelativos. Sendo uma espécie arborícola é curiosa a etimologia do nome camaleão, o qual deriva das palavras gregas chamai (na terra, no chão) e leon (leão), significando “leão da terra”. Apresenta um conjunto de adaptações morfológicas que lhe permite encontrar-se perfeitamente adaptado à sua condição arborícola. Entre elas destacam-se o já referido corpo comprimido lateralmente, a cauda preênsil (a qual funciona como um órgão de apoio) e a disposição dos dedos em forma de pinça, características que lhe proporciona um bom equilíbrio, mesmo nos ramos mais finos.
A capacidade de mudar de cor e o seu modo de alimentação são duas características que também contribuem para o interesse que esta espécie motiva. A sua cor pode mudar em função da idade, do sexo, da época do ano, do meio envolvente e do seu estado emocional. As presas do camaleão-comum são capturadas através da projecção da sua língua, a qual exerce uma força de sucção, ajudando à aderência da presa.
O camaleão-comum pertence à família Chamaeleonidae, a qual apresenta uma maior diversidade de espécies na zona oriental de África e em Madagáscar. O género Chamaeleo tem a maior distribuição da família, contendo as únicas quatro espécies que se encontram fora de África. O camaleão-comum apresenta uma distribuição circum- mediterrânea distribuindo-se pelo Norte de África (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto), Sul da Europa (Portugal, Espanha e Grécia), algumas ilhas mediterrânicas (Chipre, Malta e Creta) e Médio Oriente (Israel, Líbano, Síria e Turquia).
Em Portugal, a sua distribuição limita-se ao litoral algarvio, ocupando preferencialmente dunas litorais com vegetação, algumas formações florestais, como folhosas diversas e pinhais (tendo uma aparente preferência por um coberto florestal elevado) e também pomares agrícolas. A sua área de distribuição apresenta-se extremamente fragmentada, o que sugere uma expansão não natural e um grande impacto provocado pela destruição do habitat mais favorável à ocorrência da espécie. De facto, investigações recentes apontam para uma diminuição acentuada da área ocupada por estes habitats. A destruição e fragmentação do habitat constituem dois dos principais factores de ameaça à espécie, factores que se tornam mais relevantes devido ao facto do camaleão-comum apresentar uma reduzida capacidade de dispersão. Como consequência, núcleos populacionais têm ficado isolados, o que os torna mais vulneráveis a fenómenos de estocasticidade ambiental e demográfica, a catástrofes naturais e a perda de variabilidade genética.
O facto do camaleão-comum ser uma espécie bastante atractiva e de fácil captura contribui também para o seu padrão de distribuição extremamente fragmentado. Com muita frequência, ouvem-se relatos de veraneantes que durante os dias de férias “adoptam” estes animais e depois os libertam em algum local diferente daquele onde os capturaram. Esta situação leva a duas consequências distintas. Muitos destes animais não sobrevivem nos locais onde foram libertados, enquanto outros conseguem sobreviver, mas em núcleos populacionais de dimensões muito reduzidas, pelo que a probabilidade de subsistência a longo prazo destas populações é muito reduzida.
Assim, possíveis acções de conservação para o camaleão-comum devem incluir medidas de protecção dos habitats mais favoráveis à sua ocorrência. O incentivo à agricultura tradicional com controlo biológico das pestes será também benéfico, uma vez que o aumento na utilização de produtos agroquímicos está também a contribuir para a degradação do seu habitat. A realização de campanhas de sensibilização da população será também importante, de modo a evitar a captura e deslocação destes animais.
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