quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Camaleão - a próxima extinção?

















Esta notícia publicada no site da aidnature.org, acerca do Camaleão-comum, existente em Portugal, pretende atrair a atenção da população para uma espécie que está em grave risco de extinção no nosso País.

Este artigo foi escrito pelo Dr. Octávio Paulo, especialista em répteis da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e por Patrícia Brás, aluna de mestrado actualmente a investigar este réptil da nossa fauna.

De corpo comprimido lateralmente e com olhos que se podem mover de forma independente, o camaleão-comum (Chamaeleo chamaeleon) é um dos répteis ibéricos mais surpreendentes e apelativos. Sendo uma espécie arborícola é curiosa a etimologia do nome camaleão, o qual deriva das palavras gregas chamai (na terra, no chão) e leon (leão), significando “leão da terra”. Apresenta um conjunto de adaptações morfológicas que lhe permite encontrar-se perfeitamente adaptado à sua condição arborícola. Entre elas destacam-se o já referido corpo comprimido lateralmente, a cauda preênsil (a qual funciona como um órgão de apoio) e a disposição dos dedos em forma de pinça, características que lhe proporciona um bom equilíbrio, mesmo nos ramos mais finos.

A capacidade de mudar de cor e o seu modo de alimentação são duas características que também contribuem para o interesse que esta espécie motiva. A sua cor pode mudar em função da idade, do sexo, da época do ano, do meio envolvente e do seu estado emocional. As presas do camaleão-comum são capturadas através da projecção da sua língua, a qual exerce uma força de sucção, ajudando à aderência da presa.


O camaleão-comum pertence à família Chamaeleonidae, a qual apresenta uma maior diversidade de espécies na zona oriental de África e em Madagáscar. O género Chamaeleo tem a maior distribuição da família, contendo as únicas quatro espécies que se encontram fora de África. O camaleão-comum apresenta uma distribuição circum- mediterrânea distribuindo-se pelo Norte de África (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto), Sul da Europa (Portugal, Espanha e Grécia), algumas ilhas mediterrânicas (Chipre, Malta e Creta) e Médio Oriente (Israel, Líbano, Síria e Turquia).

Em Portugal, a sua distribuição limita-se ao litoral algarvio, ocupando preferencialmente dunas litorais com vegetação, algumas formações florestais, como folhosas diversas e pinhais (tendo uma aparente preferência por um coberto florestal elevado) e também pomares agrícolas. A sua área de distribuição apresenta-se extremamente fragmentada, o que sugere uma expansão não natural e um grande impacto provocado pela destruição do habitat mais favorável à ocorrência da espécie. De facto, investigações recentes apontam para uma diminuição acentuada da área ocupada por estes habitats. A destruição e fragmentação do habitat constituem dois dos principais factores de ameaça à espécie, factores que se tornam mais relevantes devido ao facto do camaleão-comum apresentar uma reduzida capacidade de dispersão. Como consequência, núcleos populacionais têm ficado isolados, o que os torna mais vulneráveis a fenómenos de estocasticidade ambiental e demográfica, a catástrofes naturais e a perda de variabilidade genética.

O facto do camaleão-comum ser uma espécie bastante atractiva e de fácil captura contribui também para o seu padrão de distribuição extremamente fragmentado. Com muita frequência, ouvem-se relatos de veraneantes que durante os dias de férias “adoptam” estes animais e depois os libertam em algum local diferente daquele onde os capturaram. Esta situação leva a duas consequências distintas. Muitos destes animais não sobrevivem nos locais onde foram libertados, enquanto outros conseguem sobreviver, mas em núcleos populacionais de dimensões muito reduzidas, pelo que a probabilidade de subsistência a longo prazo destas populações é muito reduzida.

Assim, possíveis acções de conservação para o camaleão-comum devem incluir medidas de protecção dos habitats mais favoráveis à sua ocorrência. O incentivo à agricultura tradicional com controlo biológico das pestes será também benéfico, uma vez que o aumento na utilização de produtos agroquímicos está também a contribuir para a degradação do seu habitat. A realização de campanhas de sensibilização da população será também importante, de modo a evitar a captura e deslocação destes animais.


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