quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Lobo Ibérico e o trabalho do Grupo Lobo na BBC


A BBC NEWS EUROPE publicou recentemente um artigo acerca do trabalho do Grupo Lobo com o projecto Cão de Gado que está a ser desenvolvido em Portugal.

link para o artigo original:

http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-16845256

Segue em baixo uma tradução do artigo.

Durante séculos, os cães de guarda trabalharam ao lado de criadores de gado nas montanhas de Portugal para proteger o seu gado do Lobo Ibérico.

Mas os cães caíram em desuso quando o tiro e o envenenamento passaram a ser considerados como um método mais rápido e fácil de controlar os lobos, na viragem do século XX. Agora que os lobos são protegidos pela lei Portuguesa, algumas das raças de cães mais antigas do país estão de novo a ser usadas ​​para ajudar os agricultores a co-existir com estes predadores.

Uma organização Portuguesa de conservação do Lobo, o Grupo Lobo, está a incentivar os agricultores a regressar aos métodos tradicionais e comprovados pelo tempo e ao trabalho com os cães raros, que ferozmente protegem os rebanhos sob os seus cuidados e afugentam os lobos, atacando-os.

Desde 1988 que é estritamente proibido matar ou ferir os lobos.
No entanto, os lobos continuam sob ameaça constante, muitas vezes de agricultores desesperados que recorrem a meios desesperados.

Cerca de 300 lobos ibéricos (Canis lupus signatus - uma sub-espécie ligeiramente menor que o lobo cinza Europeu) sobrevivem nas terras altas do norte e centro de Portugal.

"Estamos a incentivar os agricultores a utilizar os tradicionais cães de guarda mais uma vez, não só para reduzir os ataques de animais, que vão ajudar os agricultores a tolerar melhor o lobo, mas também para trazer essas raças de cães tradicionais portugueses de volta da beira do abismo", explica Sílvia Ribeiro, uma bióloga integrada no projecto de conservação.

Raças de cães como o de Cão Castro Laboreiro, Cão da Serra da Estrela e o Cão de Gado Transmontano foram altamente valorizadas no passado pelo seu instinto de protecção e capacidade inata de se relacionarem fortemente com os animais sob os seus cuidados.

"O seu comportamento é bastante diferente do dos cães de pastoreio. Faz parte do seu carácter a criação de um vínculo com seu rebanho e o instinto de o proteger ferozmente," diz Sílvia Ribeiro.
"Eles estão sempre activamente a olhar para todo o lado, a farejar sinais de perigo e atentos ao gado que apresenta sinais de aflição”.

Ela diz que, em caso de ataque, os cães posicionam-se entre o rebanho e o lobo, ladrando e perseguindo o lobo até este se afastar. O
seu sentido de olfacto é tão apurado que pode até mesmo distinguir as cabras do seu rebanho das de outro.

Para os criadores de animais, tais como Alfredo Gonçalves, que guarda 450 cabras na orla do Parque Nacional Peneda-Gerês, o projecto está a revelar-se eficaz.

"Eu perco cerca de 80 caprinos por ano para os lobos", diz ele.

"Inspectores do governo vêem e avaliam as mortes e somos pagos pelo nosso gado perdido, mas muitas vezes esperamos um a dois anos, que é um tempo de espera muito longo, especialmente neste clima económico".

O Sr. Gonçalves diz que está completamente disposto a conviver com os lobos, mas os seus ataques têm um impacto sério para os agricultores que ganham muito pouco.

O seu rendimento mensal pequena de cerca de € 500 depende em grande parte na venda de cabritos para consumo.

Para ajudar a reduzir os ataques de lobo, o Grupo Lobo deu-lhe um cão de Castro Laboreiro com dois meses de idade chamado Tija, há 18 meses.

Os agricultores que participam no projecto recebem um cão sem custos, mas assinam um contrato rigoroso, concordando com a sua formação, com o modo como será tratado e usado, e a concordar que tem de se submeter à inspecção regular e acompanhamento pelo Grupo Lobo.

Até agora, 300 cães foram colocados com 170 criadores de gado.

Tija vive agora com as cabras de Alfredo Gonçalves, dorme com elas num armazém à noite e permanece com o rebanho enquanto este pasta nas montanhas diariamente. A
sua raça vem de uma aldeia no norte do parque nacional e já foi usada na área, mas actualmente é muito rara.

O vínculo que os cães criam com o rebanho que está sob os seus cuidados é tão forte que os biólogos do Grupo Lobo relatam que cadelas chegam a abandonar as suas próprias crias para amamentar os cabritos recém-nascidos.

Um cão surpreendentemente gentil e amigável, Tija é claramente valorizada pelo Sr. Gonçalves que recentemente pediu aos membros do grupo de conservação para lhe fornecer um segundo cão de guarda.

"Em cada ataque dos lobos, costumo perder um ou dois bodes", diz ele.

"Às vezes, quando o rebanho está a pastar e pequenos grupos de lobos atacam, podemos perder 10 ou mais animais. É devastador. Mas desde que a Tija chegou, as mortes de cabras reduziram um quarto desse valor.”


Para garantir uma protecção total para um rebanho de 500 animais, são necessários três ou quatro cães de guarda, mas alguns agricultores têm sido relutantes em assumir os novos cães e todos os custos e esforço envolvidos.

"Não tem sido simples convencer os agricultores," diz Sílvia Ribeiro.
"Eles ainda estão a ter que adaptar-se ao lobo ibérico como uma espécie protegida."

Após centenas de anos a ser visto como uma praga, é difícil mudar os comportamento, assume.


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