sábado, 7 de julho de 2012

Conservação de aves no Alentejo ganha 18 hectares


















In "Público", edição on-line - 06.07.2012, por Helena Geraldes
As abetardas, sisões e peneireiros-das-torres, aves que dependem das estepes cerealíferas do Alentejo, ganharam recentemente 18 hectares de zonas de refúgio, através da compra de terrenos pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN) em Castro Verde.

Os terrenos agrícolas foram adquiridos em Maio com 75% de financiamentos comunitários e 25% divididos entre fundos da própria LPN e de donativos de empresas.

“Estes 18 hectares são zonas nucleares para a conservação destas aves, que precisam de áreas muito extensas, e têm condições de excelência. São territórios onde as abetardas fazem paradas nupciais e onde nidificam, por exemplo”, disse nesta sexta-feira ao PÚBLICO Rita Alcazar, responsável da LPN pelo projecto LIFE Estepárias (2009-2012).

Os novos terrenos juntam-se agora a outros 150 hectares que a associação ambientalista – a mais antiga do país, criada em 1948 – havia adquirido em Fevereiro de 2011.

Naqueles 168 hectares existem cerca de 50 abetardas (Otis tarda), a maior e mais pesada das aves da fauna portuguesa, e outras aves como o sisão (Tetrax tetrax), o peneireiro-das-torres (Falco naumanni) e a perdiz-comum (Alectoris rufa).

“Vamos manter parte da gestão agrícola, semeando searas todos os anos em algumas zonas e mantendo outras em pousio. Mas iremos fazer melhoramentos do habitat para estas aves, como a construção de uma torre de nidificação, a remoção de vedações, a acessibilidade a pontos de água e a proibição da caça”, explicou a responsável.

“Nestes terrenos, a gestão agrícola assegura abrigo e alimento sem perturbação para estas espécies, que nidificam no solo e que dependem de extensas áreas planas e desarborizadas para se alimentar e caçar”, segundo uma nota da associação ambientalista.

Os 168 hectares fazem parte de uma área maior, com 85.000 hectares, ou seja, a Zona de Protecção Especial (ZPE) de Castro Verde. De acordo com a LPN, nesta ZPE, o número de abetardas passou das 400 em 1997 para as cerca de 1300 abetardas no final desta Primavera; destas, 50 ocorrem nas propriedades adquiridas desde Fevereiro de 2011.

Quando o Programa LIFE Estepárias terminar, no final de 2012, a conservação destas aves vai sofrer alterações. “A nossa presença no terreno terá de ser reduzida e teremos de deixar de fazer algumas acções, como a vigilância das colónias de peneireiros, para resgatar os juvenis feridos que caem dos ninhos, a sensibilização junto dos caçadores, ou a intervenção para diminuir os impactos negativos das centenas de quilómetros de vedações”, disse Rita Alcazar.

Clique aqui para aceder ao artigo original.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Liga para a Protecção da Natureza surpreendida com discurso de Passos Coelho na Rio+20


In "Público"
22.06.2012
Helena Geraldes

As afirmações do primeiro-ministro na conferência Rio+20, nesta quinta-feira, surpreenderam a Liga para a Protecção da Natureza (LPN) por contrastarem com as opções ambientais que o Governo está a tomar em Portugal.


“Assumimos hoje uma responsabilidade colectiva perante as gerações futuras. Falhar não é uma opção. E aqui não falhámos”, disse Pedro Passos Coelho no seu discurso no plenário da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável.

Hoje, a LPN diz-se surpreendida. “Estas afirmações contrastam com os resultados da conferência e principalmente com a actuação interna de Portugal a nível do Ambiente”, escreve em comunicado a direcção da mais antiga associação de defesa do Ambiente do país, criada em 1948.

A associação recorda uma lista de seis “processos contra o ambiente” em curso no país, que inclui a construção da barragem do Tua e do Sabor, o corte nos subsídios de apoio à instalação de equipamentos de energia renovável e as propostas de novas leis como a dos solos – “que visa eliminar os regimes de protecção e conservação da natureza” – e da arborização do país. Além disso, a LPN lamenta a “falta de apoio às áreas marinhas protegidas”, bem como os “cortes que levaram à total desorganização dos serviços de conservação da natureza em Portugal”. Da lista fazem ainda parte a “falta de apoio político e fiscalização efectiva das reservas e parques naturais” e as reformas nos licenciamentos industriais “que visam abolir todas as condicionalidades ambientais”.

A Liga espera agora que o Governo “reconsidere as opções que tem tomado” e “que se têm demonstrado absolutamente avessas ao desenvolvimento sustentável e à conservação da natureza”.

Sobre a Rio+20, a LPN também tem críticas a fazer, denunciando que termina “sem coragem política para resolver problemas que já são prementes, atirando todos a culpa para cima dos outros e rejeitando qualquer decisão palpável”



Clique aqui para aceder ao artigo original.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Recuperar a vida selvagem na Europa com as Reservas da Biosfera














Publicado no site: www.iucn.org04 Maio 2012
Traduzido por António Castelo

A Europa está actualmente a atravessar um período excepcional para a  recuperação da vida selvagem devido ao abandono, a larga escala, dos terrenos para a agricultura. Este fenómeno é particularmente notável nas áreas montanhosas do continente, que estão a resplandecer em natureza selvagem, robusta e resiliente. É a altura mais oportuna para a conservação da Biodiversidade na Europa.

A reintegração da vida selvagem traz novas oportunidades para a sociedade e para as pessoas que ainda vivem nos meios rurais, para fazerem a transição de uma economia de extracção de recursos, dependente, para uma economia de serviços baseada nos recursos naturais e selvagens. Contudo, sabendo que cerca de 50 por cento de todas as espécies europeias dependem de paisagens abertas ou semi-abertas, um dos maiores desafios é agora estimular os processos naturais que mantém essas paisagens no seu estado ideal: herbívoros selvagens, avalanches, vagas de insectos, vento, inundações, fogos de mato, etc.

No dia 26 de Abril estabeleceu-se um acordo entre a Autoridade da Reserva da Biosfera do Delta do Danúbio e a WWF-Roménia para trabalharem juntos na reintegração da vida selvagem na parte Romena do Delta do Danúbio. Este acordo teve início na nova iniciativa "Rewildind Europe", que lançou cinco grandes projectos de reintegração de vida selvagem em 2011.

Como uma primeira medida, um número de espécies chave, incluindo o castor e o veado, serão trazidos de volta para o Delta para funcionar como um arranque para processos naturais que desapareceram quase por inteiro. Sistemas de pastagens naturais serão promovidos, começando pela transladação de populações de cavalo selvagem. As duas comunidades de CA Rosetti e Sfantu Gheorghe na região exterior da região do Delta, que conjuntamente cobrem 70,000 hectares dos 580,000 da Reserva da Biosfera, serão apoiadas na implantação dos modelos de conservação da vida selvagem experimentados e desenvolvidos na Namíbia.

Estas espécies reintroduzidas, juntamente com a já espectacular variedade de pássaros, as paisagens únicas e a interessante cultura local, têm o potencial para criar novas fontes de rendimento para as comunidades. As últimas décadas têm visto as fontes tradicionais de rendimento provenientes da pesca e da criação de gado desvanecer, levando a um êxodo dos jovens e a um consequente envelhecimento da população. O trabalho de conservação vai conferir a estas comunidades um papel directo e claro na gestão de uma parte significativa do Delta - um princípio bem assente na filosofia da Reserva da Biosfera.

O Rewilding Europe está simultaneamente a trabalhar em outras Reservas da Biosfera - a Reserva East Carpathians, com 213.000 hectares, na fronteira entre a Polónia, Eslováquia e a Ucrânia, e na Reserva da costa do Adriático, na Croácia, com 200.000 hectares. Juntamente com a Western Iberia e a Southern Carpathians, o objectivo é re-instaurar processos naturais chave e assim permitir à natureza restabelecer áreas de dimensões na ordem dos 100.000 hestares, em mar e em terra, com o mínimo de intervenção humana. Com mais cinco áreas modelo ainda por identificar e instalar, a Rewilding Europe - uma iniciativa conjunta da WWF-Holanda, Fundação ARK Nature, Wild Wonders of Europe e Conservation Capital - estabeleceu o objectivo de recuperar a vida selvagem de pelo menos um milhão de hectares até 2020. Esta recuperação envolve a estimulação de processos naturais de transformação da paisagem sem ter uma visão concreta do resultado final. Uma paisagem que se mantém naturalmente e que é autosustentável para o futuro sem uma gestão humana activa é o objectivo final da Rewilding Europe.

O ressurgimento da vida selvagem está no centro deste projecto. Uma vida selvagem a prosperar é um elemento absolutamente fundamental para qualquer ecossistema saudável e sustentável, para além de uma factor de atracção e inspiração para as pessoas, e uma fonte de receitas para o desenvolvimento económico. Esta iniciativa vai fomentar um aumento da vida selvagem para densidades superiores às que hoje se verificam e vai permitir a re-introdução de espécies desaparecidas. Outro elemento-chave desta iniciativa é o incentivo para o estabelecimento de empresas orientadas para a conservação, utilizando os recursos selvagens como base de sustentação. A combinação de perspectivas inovadoras para a conservação, a comunicação em massa, e o desenvolvimento de empreendimentos nature-based atraiu já vários doadores privados e muitas ONGs.

As cinco áreas piloto seleccionadas cobrem já um espectro de diferentes formatos de conservação - parques nacionais, geo-parques, parques naturais, parques de paisagem, reservas da biosfera, Sítos RAMSAR, Sítios Património Mundial da UNESCO e rede Natura 2000 - o que transmite claramente que este conceito se pode aplicar independentemente do estatuto de protecção do local. Estas áreas protegidas estão normalmente inseridos em áreas onde o abandono de terras está neste momento a acontecer numa grande escaa e onde o ressurgimento da vida selvagem trás oportunidades novas para a conservação e o desenvolvimento local.

Clique aqui para aceder ao artigo original.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Economia verde pode gerar entre 15 a 60 milhões de empregos

31.05.2012
Ricardo Garcia


Não há dia em que não se ouça dizer que o ambiente é uma pedra no sapato da economia. Estes números dizem, porém, o contrário: a chamada “economia verde” pode gerar 15 a 60 milhões de novos empregos nos próximos 20 anos.

A estimativa resulta de uma análise feita pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e leva em conta os postos de trabalho criados em vários sectores, como o das energias renováveis, da eficiência energética ou da reciclagem.

O estudo admite que, com a transição para a economia verde, alguns vão ter de mudar de emprego. Mas trata-se de um número “gerível” – nos países desenvolvidos, será de um por cento da força de trabalho. “As preocupações sobre a perda de empregos na economia verde são, por isso, exagerados”, conclui o estudo, realizado no âmbito da Iniciativa Empregos Verdes, que envolve também outras agências da ONU.

A economia verde já está a dar sustento a milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, segundo o relatório, há 3,1 milhões de trabalhadores (2,4%) a prestarem serviços ou produzirem bens na área do ambiente. No Brasil, são 2,9 milhões (6,6%). Só no sector das renováveis, trabalham, no mundo todo, cinco milhões de pessoas. E a área da biodiversidade criou quase 15 milhões de empregos directos e indirectos na Europa.

Entre o dever e haver, as projecções apontam para um ganho positivo de 0,2% a 2,0% no número de empregos globais – ou seja, mais 15 a 60 milhões de postos de trabalho.

A economia verde, e como esta via pode ser a solução para pobreza no mundo, é o tema central da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, que terá lugar no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de Junho. A OIT dá exemplos desta ligação – como a utilização de práticas mais eficientes e com menor impacto por parte dos 400 milhões de pequenos agricultores nos países em desenvolvimento, ou a integração, na fileira da reciclagem, de milhões de “catadores” de lixo das grandes cidades. Ao benefício ambiental soma-se o aumento da produção e do rendimento.

O foco da Rio+20 sobre a economia verde não é pacífico. Vários países e organizações têm-se mostrado reticentes, invocando argumentos contra a mercantilização do ambiente e contra a ingerência externa no padrão de desenvolvimento de cada nação.

“A sustentabilidade ambiental não é assassina os empregos, como normalmente se diz. Pelo contrário, se gerida adequadamente, pode levar a mais e melhores empregos, à redução da pobreza e à inclusão social”, afirma, no entanto, Juan Somavia, director-geral da OIT, citado num comunicado da organização.

clique aqui para aceder ao artigo original.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Corvo acolhe reserva pioneira de aves marinhas com protecção contra predadores


In "Diário de Notícias", dia 7 Maio 2012.
O 'Hotel dos Cagarros', com uma centena de ninhos e vista para o mar, foi criado no Corvo, Açores, num projecto pioneiro a nível mundial que visa criar uma colónia para aves marinhas sem predadores.
A Reserva Anti-Predadores para a Nidificação de Aves Marinhas abrange uma área com cerca de um hectare na Ponta do Topo, vedada por uma rede fabricada por uma empresa especializada da Nova Zelândia, que impede a entrada de gatos e ratos.
"Esta zona da ilha está fechada desde Outubro e o controlo que realizamos mostra que não há predadores no interior da vedação", afirmou Luís Costa, director executivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), em declarações à Lusa.
Este projecto pioneiro para a conservação das colónias de aves marinhas nos Açores através da recuperação do seu habitat e de medidas de controlo e erradicação de espécies invasoras integra o programa 'LIFE Ilhas Santuário para as Aves Marinhas', coordenado pela SPEA em parceria com a Secretaria Regional do Ambiente, Câmara do Corvo e Royal Society for the Protection of Birds.
Este santuário não é exclusivo dos cagarros, destina-se também a outras aves, como os estapagados ou os frulhos, que pesam apenas 200 gramas, mas são capazes de viajar 2.200 quilómetros e mergulhar a 23 metros de profundidade.
"O objectivo é que venham para aqui todas as aves que são perseguidas por predadores e que já são raras nos Açores", salientou Luís Costa.
Os terrenos onde foi criada a reserva foram escolhidos por terem condições para a nidificação das aves, mas também por não terem uso agrícola, estando em curso a recuperação da flora endémica.
"Estamos a ficar com a vegetação própria deste local e esperamos que, se o habitat natural for recuperado, possam vir a aparecer outras espécies de plantas", frisou Frederico Cardigos, diretor regional dos Assuntos do Mar, destacando a importância dos esforços em curso para criar condições para a nidificação de aves marinhas naquela zona.
Por agora, os responsáveis estão satisfeitos por algumas aves terem estado no local a "explorar" as condições existentes, esperando que, na próxima época de nidificação, o 'hotel' tenha uma boa ocupação.
A pequena ilha do Corvo foi escolhida para esta iniciativa inovadora a nível mundial para testar métodos de erradicação de predadores e plantas invasoras pela sua localização geográfica e por ter um habitat privilegiado para a nidificação de aves marinhas.
O Corvo tem a maior população de cagarros nos Açores, é uma das duas ilhas do arquipélago onde nidificam os estapagados e acolhe frulhos nas suas encostas mais inacessíveis.
O sucesso deste projecto permitirá ter populações mais robustas de aves marinhas, que já ocuparam aos milhares as ilhas e ilhéus do arquipélago e actualmente estão reduzidas a pequenos ilhéus e falésias remotas.
A excepção é o cagarro, já que mais de metade da população mundial desta ave nidifica todos os anos nos Açores.

Clique aqui para aceder ao artigo original.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Obras na barragem do Tua decorrem desde Abril de 2011
Foto: Manuel Roberto.


In "Público" - 15.05.2012 Por Augusto José Moreira


Parar imediatamente as obras de construção da barragem de Foz Tua, solicitar uma missão conjunta de análise à situação da área de paisagem classificada do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial e remeter um relatório actualizado até ao final de Janeiro próximo.


Estas são as principais exigências que o Comité do Património Mundial da UNESCO se prepara para adoptar na sua reunião de Junho, relativamente ao caso da construção da barragem da EDP na foz deste afluente do rio Douro.

O projecto de decisão, a que o PÚBLICO teve acesso, está já concluído e, além daquelas exigências, é também colocado em causa o comportamento das autoridades portuguesas ao longo de todo o processo. Apesar de redigido, como é norma, num tom diplomático, o documento não deixa referir uma postura que pode ser classificado como de certa deslealdade por parte dos responsáveis portugueses, que não prestaram qualquer informação sobre os projectos para a construção de barragens e autorizaram o arranque das obras numa altura em que a missão de análise acabava de visitar o local e não tinha ainda sequer iniciado o seu relatório.

Quanto à parte decisória, com dez pontos, não deixa margem para dúvidas ao "instar o Estado [português] a parar imediatamente todos os trabalhos de construção da barragem de Foz Tua e toda a infra-estrutura associada". É igualmente exigido que seja solicitada a realização de uma "missão conjunta de monotorização para estudo do impacto potencial" das alterações ao projecto que foram, entretanto, anunciadas pela EDP. E ainda que o Estado português "remeta ao Comité do Património Mundial um relatório sobre a revisão ou o reexame do projecto" e também "sobre o estado de conservação" da área classificada, para que seja analisado pelo comité na sua reunião anual de 2013.

O projecto de decisão será analisado no encontro deste ano, que decorre a partir de 24 de Junho na cidade de S. Petersburgo, na Rússia. Em regra, todas as propostas são aprovadas, havendo apenas registo de pequenas alterações ou arranjos resultantes do trabalho diplomático que antecede este tipo e encontros.

Como foi noticiado pelo PÚBLICO em Dezembro último, um relatório de avaliação resultante de uma visita realizada ao Douro, no início de Abril do ano passado, considerava que a construção da barragem de Foz Tua tem um "impacto irreversível e ameaça os valores" que estiveram na base da classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial. Apesar de ter sido entregue às autoridades portuguesas ainda em Agosto, foi mantido em segredo até à divulgação da notícia e a resposta oficial do Governo àquele comité da UNESCO só terá chegado a 8 de Fevereiro deste ano, conforme se constata agora do projecto de decisão. No confronto de datas, o documento realça que "o projecto da barragem - embora previsto no Plano Energético Nacional de 1989 e no Plano de Bacia Hidrográfica do Douro de 1999 - nunca foi mencionado no dossier de candidatura". Refere-se ainda que em 2008 o Instituto da Água lançou o concurso público para a concessão da barragem. Este seria aprovado em 2010 e "o Estado [português] só informou o Centro do Património Mundial quando para tal foi solicitado". O projecto de decisão frisa também que o estudo de impacto ambiental "não inclui qualquer avaliação do impacto sobre o valor universal excepcional da paisagem classificada".

Quanto à resposta dada pelo Estado português, foi argumentado que o projecto foi objecto de consulta pública e que as obra só poderiam avançar depois de uma avaliação favorável, ou com condições, de impacto ambiental, documento cuja data limite de publicação era 12 de Abril de 2010. "No entanto, a 11 de Maio de 2009, o projecto já tinha recebido uma aprovação ambiental, sob certas condições", frisa o comité da UNESCO. Outro dos argumentos avançados pelo Governo foi o de que, sendo o Alto Douro Vinhateiro considerado como "uma paisagem cultural evolutiva". há toda a conveniência em assegurar "a vida e a evolução". 

Em Dezembro, quando o PÚBLICO deu conta do relatório e da consequente ameaça para a classificação da UNESCO, o secretário de Estado da Cultura disse que o Governo admitia rever o processo. "Tem de ser uma decisão muito ponderada e assumida em bloco, e o Governo pondera analisar e avaliar toda a situação", disse então Francisco José Viegas.


Clique aqui para aceder ao artigo original.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Brasil pretende construir 20 barragens na Amazónia até 2020.

















Reportagem do departamento de Jornalismo da Universidade de British Columbia acerca do Plano de Barragens do Brasil e da construção polémica da Barragem Belo Monte no Sul da Amazónia.

http://video.nytimes.com/video/2012/05/05/world/americas/100000001526824/damming-the-amazon.html

Clique aqui para aceder ao vídeo.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Documentário BERLENGAS - e o trabalho da SPEA para a conservação

Berlengas and Spea's work for Conservation from aidnature.org on Vimeo.


Esta semana a ONG portuguesa aidnature.org lançou no seu sítio da internet e nas redes sociais um documentário acerca do trabalho da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves no ilhéu dos Farilhões, no arquipélago das Berlengas.

Este documentário insere-se no Projecto Conservar Portugal, que a aidnature.org está a produzir sobre alguns dos grupos que trabalham em conservação da vida selvagem em Portugal, sobre as espécies ameaçadas no país e os locais a preservar. Uma versão portuguesa do documentário será lançada brevemente.

Clique aqui para aceder ao site da organização.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Voluntários vão ajudar sapos e salamandras do Alvão a atravessar a estrada



















08.03.2012
Por Helena Geraldes
IN Público - ECOSFERA

É um ritual de sobrevivência com milhões de anos aquele que, nesta altura, leva os anfíbios a sair da hibernação e a procurar zonas de água para reprodução. No Alvão, há uma estrada no seu caminho. Dezenas de voluntários vão torná-la menos ameaçadora.Nos dias 9 e 10 de Março, dezenas de cidadãos de Vila Real vão construir um muro com 40 centímetros de altura, dos dois lados da estrada nacional EN313 – que liga Vila Real a Lamas de Olo –, num troço de 1400 metros. “Esta estrada já tem uma série de passagens hidráulicas por baixo da estrada. Aquilo que vamos fazer é construir um murete que conduza os anfíbios até essas passagens, para diminuir a mortalidade acidental por atropelamento, que no ano passado foi muito elevada”, disse ao PÚBLICO Carlos Lima da Divisão de Planeamento da Câmara Municipal de Vila Real. A iniciativa “Salvemos os Sapos” já tem confirmadas 50 pessoas para sexta-feira mas as inscrições ainda estão abertas.

“Nesta altura do ano, havia voluntários a transportar manualmente os animais de um lado para o outro da estrada. Mas isso não funcionava”, comentou. A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) monitorizou aquele troço da EN313 e concluiu que a mortalidade acidental por atropelamento é “muito elevada”, acrescentou Carlos Lima. Especialmente para o sapo-comum (Bufo bufo), o sapo-corredor (Bufo calamita) e a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), esta última espécie endémica da Península Ibérica e classificada como Vulnerável pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Agora será construído no troço mais sensível da estrada um murete de betão, coberto com pedras locais para melhor integração na paisagem. Mas esta intervenção já está em contagem decrescente. “Não temos muito tempo”, disse Carlos Lima, que lembrou que os animais estão prestes a começar a migração de zonas mais elevadas, e secas, onde passaram o Inverno, em hibernação, até aos charcos temporários e turfeiras perto da barragem do Alvão para se reproduzirem.

A iniciativa surge no âmbito do projecto SeivaCorgo – uma das vertentes do Programa da Biodiversidade de Vila Real – e conta com a colaboração do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade e Parque Natural do Alvão e com o co-financiamento do Programa Operacional Regional do Norte (ON2).

O Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal, de 2010, lista 17 espécies de anfíbios, espécies especialmente sensíveis às alterações climáticas e às perturbações nos padrões de precipitação. Carlos Lima informou que, por enquanto, a seca que afecta todo o território de Portugal Continental, ainda não está a ter efeitos nas populações de anfíbios daquele concelho. “Na última saída de campo que fizemos, os charcos temporários estavam, pelo menos, húmidos. E a barragem do Alvão tem níveis de água assinaláveis”, constatou.

Clique aqui para aceder ao artigo original.

terça-feira, 13 de março de 2012

Associações ambientalistas em acampamento contra a Barragem de Foz Tua





Fonte: Quercus

Clique aqui para aceder ao artigo original.

Concentração de protesto
no dia 17 de Março
Associações ambientalistas em acampamento contra a Barragem de Foz Tua
Apesar das evidências do valor patrimonial e económico do vale do Tua, a EDP e o Governo teimam em avançar com a construção da barragem de Foz Tua. Recusando-se a assistir inactivas a esta destruição, várias associações ambientalistas participarão num conjunto de acções de protesto em Foz Tua, começando a 14 de Março. por ocasião do Dia Internacional pelos Rios. Entre 10 e 18 de Março, decorrerá um acampamento pela preservação do Vale do Tua, que termina, no dia 17 de Março, numa concentração junto à barragem no dia 17 de Março, em censura pública aos seus promotores.
A barragem produziria apenas 0,1% (!!!) da energia do País, com um custo do kWh duas vezes mais caro que o sistema electroprodutor presente e dez vezes mais caro que investimentos alternativos em poupança de energia. A barragem implica a destruição de um dos mais belos rios da Europa, a possível desclassificação pela UNESCO do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial da Humanidade, a degradação da qualidade da água e a destruição de solos agrícolas, de paisagens únicas e de ecossistemas raros, bem como do potencial turístico da região, cujo exemplo mais desolador é a submersão da linha de comboio centenária do Tua.

Vamos partilhar a realidade e a cultura da comunidade local, que sofre com a desertificação e despovoamento da região do Vale do Tua, agravado agora com a construção da barragem.


/PROGRAMA

4ªFEIRA, 14 DE MARÇO, DIA DOS RIOS
11h00 - Dia Internacional de Acção pelos Rios
14h30 - Início da Vigília Pelo Tua - Pelo Rio, pelo Património, pela Linha

17h00 - Inauguração da Exposição Actua pelo Tua

5ªFEIRA, 15 MARÇO, DIA DO PATRIMÓNIO
10h00 - Homenagem aos Sobreiros Abatidos

21h00 - Leitura de poesia Transmontana e Duriense

6ªFEIRA, 16 DE MARÇO, DIA DA ENERGIA
10h00 - Dia Aberto de Actividades sobre Energia e Transportes

Exibição de documentários sobre as barragens

SÁBADO, 17 DE MARÇO
9h Rafting no Rio Tua (GEOTA)
(ou) 10h Caminhada Foz Tua

15h CONCENTRAÇÃO CONTRA A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM EDP EM FOZ-TUA

DOMINGO, 18 DE MARÇO
9h30 Passeio pedestre pela Linha do Tua (GEOTA)

Entrega dos prémios do Concurso de Artes Actua pelo Tua

quinta-feira, 8 de março de 2012

Conservação do lince e abutre-preto ganha 5000 hectares no Alentejo









Fonte: Público

Publicado em:

29.02.2012
Helena Geraldes

O lince-ibérico e o abutre-preto, duas das espécies mais ameaçadas de Portugal, ganharam 5000 hectares de refúgio no Baixo Alentejo, no âmbito de uma parceria para a sua conservação assinada na Herdade da Contenda.

Com mais de 5000 hectares, a Herdade da Contenda – gerida pela Câmara Municipal de Moura – vai ser alvo de uma série de medidas para “melhorar as condições de sobrevivência, alimentação e reprodução do lince-ibérico e do abutre-preto”, explicou Eduardo Santos, da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e coordenador do projecto LIFE - Natureza “Habitat Lince Abutre”, iniciado em Janeiro de 2010.

O protocolo de parceria foi assinado em Dezembro e, nos próximos cinco anos, serão instalados ninhos artificiais de abutre-preto e um campo de alimentação para esta ave necrófaga, e implementadas medidas de melhoria do habitat para o coelho-bravo, presa do lince-ibérico (Lynx pardinus) e do abutre-preto (Aegypius monachus).

“A Contenda é um espaço muito especial”, contou ao PÚBLICO Eduardo Santos. “É considerada, há muito tempo, uma das melhores áreas de habitat para o lince-ibérico e para o abutre-preto. Está bem conservada e tem uma área geográfica com muito boa dimensão”, acrescentou.

Eduardo Santos lembrou que, na Contenda "são observados regularmente, em média, 20 abutres-pretos. A zona é usada por estas aves como área de alimentação e alguns já foram vistos a pernoitar no perímetro da herdade". Esta está localizada a 20 quilómetros de uma colónia de abutre-preto em Espanha com 100 casais. Além disso está próxima da Serra Morena, habitat de lince-ibérico.

Ainda assim, há trabalho a fazer, como conseguir que a população de coelho-bravo aumente. “De momento não existem grandes populações de coelho-bravo mas há um núcleo que tem potencial para crescer”, considerou.

A Contenda tem áreas de pinhal, montado e sobreiral e uma zona de caça nacional. "Dentro de poucos anos poderemos esperar ter abutres-pretos a nidificar na Contenda", disse Eduardo Santos.

O projecto LIFE Natureza “Promoção do Habitat do Lince-ibérico e do Abutre-preto no Sudeste de Portugal” é co-financiado a 75% pelo Programa LIFE da Comissão Europeia e tem um orçamento global de cerca de 2,6 milhões de euros. O Projecto, com duração de 4 anos, de Janeiro de 2010 a Dezembro de 2013, será implementado nas regiões de Mourão, Moura e Barrancos, do Vale do Guadiana e da Serra do Caldeirão, nas áreas da Rede Natura 2000 aí existentes.

Até ao momento, e além da Herdade da Contenda, o projecto já estabeleceu protocolos com propriedades privadas, totalizando cerca de 7000 hectares, com o objectivo de “promover a conservação da paisagem natural que serve de habitat” àquelas duas espécies Criticamente em Perigo, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Em Portugal, actualmente não se conhecem populações reprodutoras de lince-ibérico e em Espanha estima-se que existam apenas 200 indivíduos em duas populações. Quanto ao abutre-preto, depois de se ter extinguido como reprodutor nos anos 70, em 2010, quatro casais voltaram a nidificar em Portugal, na região do Tejo Internacional.

Clique aqui para consultar o artigo original.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Lobos em destaque em Miranda do Douro
















Notícia publicada no Jornal O SOL, em 26 de Fevereiro de 2012.

Um conjunto de iniciativas, até domingo, em Malhadas, Miranda do Douro, tem como objectivos informar e desmistificar a «animosidade» criada em torno dos lobos.

O conjunto de acções, que juntará investigadores, ambientalistas e pastores, parte da associação ALDEIA e do Grupo o Lobo, aos quais se junta a Associação de Desenvolvimento da Terra Fria Transmontana - Corane.

O lobo é uma espécie classificada como em «perigo de extinção em Portugal» desde 1990 e é protegida por lei desde 1988, sendo a única espécie nacional com uma lei própria.

«É nesta lei que o Estado se compromete a indemnizar os criadores de gado pelos prejuízos causados pelo lobo e que passa a ser proibida a caça deste predador», destacou a técnica da associação ALDEIA, Ana Guerra.

Segundo a responsável, no início do século 20, o lobo ibérico ocupava a quase totalidade de Península Ibérica, onde a sua área de distribuição tem vindo a diminuir.

«Actualmente, em Portugal, o lobo ocupa apenas 20 por cento da sua distribuição inicial e está disperso pelas zonas montanhosas do Norte e Centro do país», frisou.

Segundo os dados do último censo nacional de lobo, existem em Portugal quatro núcleos populacionais: Peneda/Gerês, Alvão/Padrela, Bragança e sul do Rio Douro, perfazendo entre 220 a 430 animais, conforme a época do ano.

«O núcleo de lobos de Bragança, o maior do país, engloba 25 alcateias das 51 a nível nacional e, por isso, conta com um efectivo populacional estimado entre os 87 e os 212 animais, dependendo da época do ano», disse a técnica.

Apesar de «maior», este núcleo populacional é o que causa um «menor impacto negativo» sobre o efectivo pecuário, dado o sistema de pastoreio tradicional e a utilização de cães de gado eficazes.

«Esta variação de efectivos, que ocorre apenas por causas naturais, levou a que muitos acreditem que se deve à libertação de lobos por entidades ligadas à conservação na Natureza. Este é um mito falso, mas muito enraizado nas populações do interior», concluiu a técnica.

O programa conta com oradores de renome, que explicarão as questões da conservação do lobo e a forma como está enraizado na cultura popular.

As sessões de esclarecimento são destinadas, não só aos participantes da actividade, mas principalmente aos pastores locais.

Marcam presença a Associação de Criadores do Cão de Gado Transmontano, que revelará a importância do cão de gado na protecção dos rebanhos.

O ICNB esclarecerá todas a formalidades no registo e atribuição de indemnizações relativas aos prejuízos causados pelo lobo, aquando das suas investidas nos rebanhos.

Lusa/SOL

Clique aqui para aceder ao artigo original.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Legislação pendente do ICNB altamente prejudicial para abutres em Portugal.

















Esta notícia foi publicada no jornal SOL dia 23 de Fevereiro 2012, e é da autoria de Sónia Balasteiro.

"O Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) recusa seguir a nova legislação europeia que permite aos agricultores deixar as carcaças de animais mortos nos campos, para alimentar os abutres que sobrevoam o país.

Em causa, segundo admitiu ao SOL fonte do Ministério do Ambiente está o medo da transmissão de doenças, como a BSE ou a tuberculose. É uma questão de «salvaguarda da saúde pública e animal», explica a mesma fonte.

Mas a Quercus lembra que, em alternativa, o Executivo ficou de licenciar locais próprios para os abutres comerem (alimentadores), o que ainda não aconteceu no Parque Natural do Tejo Internacional (PNTI) – área com mais abutres em via de extinção. Por isso, a associação ameaça queixar-se a Bruxelas. «Se o Governo não assegurar a sobrevivência destas espécies vamos apresentar queixa na União Europeia (UE)», explica fonte da Quercus.

Isto porque segundo as regras das autoridades europeias, cada Estado-membro tem de ter, pelo menos, uma destas opções (alimentadores ou carcaças deixadas nos campos) para garantir a sobrevivência dos abutres.

Em Fevereiro de 2011, a UE decidiu autorizar que os agricultores passassem a deixar de novo nos campos as carcaças dos animais mortos, mediante regras específicas. Uma prática que estava proibida desde 2002 devido à BSE (doença das vacas loucas).

Na altura a proibição deixou os abutres, aves protegidas por lei, em perigo de extinção, sem alimento disponível, correndo mesmo o risco de morrer à fome. Por isso, a UE aprovou a criação de campos de alimentação nos quais seriam deixados «corpos de animais mortos».

Mas, segundo a Quercus, em Portugal nem uma, nem outra solução está a ser aplicada.

Ao mesmo tempo, a falta de alimento tem gerado situações perigosas, como as que aconteceram no ano passado: para conseguirem comer, vários abutres (sobretudo grifos) atacaram gado vivo na zona da Beira Interior, lançando o pânico entre os agricultores. Na altura, fonte oficial do ICNB, entidade à qual cabe o licenciamento dos alimentadores – no PNTI há por licenciar dois da Quercus e um privado –, garantia ao SOL que estaria «para breve» esta medida, que então esperava os pareceres da DGV.

Um ano depois, fonte oficial daquele instituto, admite que ainda não está concluído: «O processo de licenciamento dos alimentadores foi acelerado e está a ser finalizado».

Segundo o que o SOL apurou, a DGV já deu luz verde ao licenciamento. Além disso, o Plano Nacional Para a Conservação das Aves Necrófagas, há anos na gaveta, poderá avançar em Março.

Para a Quercus, a falta de alimento para os abutres é o principal ponto que o plano deverá colmatar. Aliás, fonte da associação conta que já este ano, houve abutres a ‘roubar’ alimentos. «Roubaram mais de 30 carcaças de veados, enquanto os caçadores almoçavam».

Para a Quercus a melhor solução seria o Governo permitir a existência do gado nos campos e ao mesmo tempo licenciar aqueles centros de alimentação. «Só assim os abutres terão comida suficiente», avisa a associação."

Clique aqui para aceder à notícia original original.

As espécies que vão desaparecer brevemente - veja aqui.


RARE from Joel Sartore on Vimeo.

Joel Sartore é um fotógrafo de Vida Selvagem que está a registar as espécies que estão em maior perigo de extinção no Planeta. No seu projecto - "The Biodiversity Project" - pretende mostrar-nos todos os animais que vão desaparecer caso a sociedade a uma escala global não tome as medidas necessárias para reverter o processo actual de destruição da Terra.

Clique aqui para ver fotografias impressionantes dos mais belos animais selvagens do Mundo.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Camaleão - a próxima extinção?

















Esta notícia publicada no site da aidnature.org, acerca do Camaleão-comum, existente em Portugal, pretende atrair a atenção da população para uma espécie que está em grave risco de extinção no nosso País.

Este artigo foi escrito pelo Dr. Octávio Paulo, especialista em répteis da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e por Patrícia Brás, aluna de mestrado actualmente a investigar este réptil da nossa fauna.

De corpo comprimido lateralmente e com olhos que se podem mover de forma independente, o camaleão-comum (Chamaeleo chamaeleon) é um dos répteis ibéricos mais surpreendentes e apelativos. Sendo uma espécie arborícola é curiosa a etimologia do nome camaleão, o qual deriva das palavras gregas chamai (na terra, no chão) e leon (leão), significando “leão da terra”. Apresenta um conjunto de adaptações morfológicas que lhe permite encontrar-se perfeitamente adaptado à sua condição arborícola. Entre elas destacam-se o já referido corpo comprimido lateralmente, a cauda preênsil (a qual funciona como um órgão de apoio) e a disposição dos dedos em forma de pinça, características que lhe proporciona um bom equilíbrio, mesmo nos ramos mais finos.

A capacidade de mudar de cor e o seu modo de alimentação são duas características que também contribuem para o interesse que esta espécie motiva. A sua cor pode mudar em função da idade, do sexo, da época do ano, do meio envolvente e do seu estado emocional. As presas do camaleão-comum são capturadas através da projecção da sua língua, a qual exerce uma força de sucção, ajudando à aderência da presa.


O camaleão-comum pertence à família Chamaeleonidae, a qual apresenta uma maior diversidade de espécies na zona oriental de África e em Madagáscar. O género Chamaeleo tem a maior distribuição da família, contendo as únicas quatro espécies que se encontram fora de África. O camaleão-comum apresenta uma distribuição circum- mediterrânea distribuindo-se pelo Norte de África (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto), Sul da Europa (Portugal, Espanha e Grécia), algumas ilhas mediterrânicas (Chipre, Malta e Creta) e Médio Oriente (Israel, Líbano, Síria e Turquia).

Em Portugal, a sua distribuição limita-se ao litoral algarvio, ocupando preferencialmente dunas litorais com vegetação, algumas formações florestais, como folhosas diversas e pinhais (tendo uma aparente preferência por um coberto florestal elevado) e também pomares agrícolas. A sua área de distribuição apresenta-se extremamente fragmentada, o que sugere uma expansão não natural e um grande impacto provocado pela destruição do habitat mais favorável à ocorrência da espécie. De facto, investigações recentes apontam para uma diminuição acentuada da área ocupada por estes habitats. A destruição e fragmentação do habitat constituem dois dos principais factores de ameaça à espécie, factores que se tornam mais relevantes devido ao facto do camaleão-comum apresentar uma reduzida capacidade de dispersão. Como consequência, núcleos populacionais têm ficado isolados, o que os torna mais vulneráveis a fenómenos de estocasticidade ambiental e demográfica, a catástrofes naturais e a perda de variabilidade genética.

O facto do camaleão-comum ser uma espécie bastante atractiva e de fácil captura contribui também para o seu padrão de distribuição extremamente fragmentado. Com muita frequência, ouvem-se relatos de veraneantes que durante os dias de férias “adoptam” estes animais e depois os libertam em algum local diferente daquele onde os capturaram. Esta situação leva a duas consequências distintas. Muitos destes animais não sobrevivem nos locais onde foram libertados, enquanto outros conseguem sobreviver, mas em núcleos populacionais de dimensões muito reduzidas, pelo que a probabilidade de subsistência a longo prazo destas populações é muito reduzida.

Assim, possíveis acções de conservação para o camaleão-comum devem incluir medidas de protecção dos habitats mais favoráveis à sua ocorrência. O incentivo à agricultura tradicional com controlo biológico das pestes será também benéfico, uma vez que o aumento na utilização de produtos agroquímicos está também a contribuir para a degradação do seu habitat. A realização de campanhas de sensibilização da população será também importante, de modo a evitar a captura e deslocação destes animais.


O Lobo Ibérico e o trabalho do Grupo Lobo na BBC


A BBC NEWS EUROPE publicou recentemente um artigo acerca do trabalho do Grupo Lobo com o projecto Cão de Gado que está a ser desenvolvido em Portugal.

link para o artigo original:

http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-16845256

Segue em baixo uma tradução do artigo.

Durante séculos, os cães de guarda trabalharam ao lado de criadores de gado nas montanhas de Portugal para proteger o seu gado do Lobo Ibérico.

Mas os cães caíram em desuso quando o tiro e o envenenamento passaram a ser considerados como um método mais rápido e fácil de controlar os lobos, na viragem do século XX. Agora que os lobos são protegidos pela lei Portuguesa, algumas das raças de cães mais antigas do país estão de novo a ser usadas ​​para ajudar os agricultores a co-existir com estes predadores.

Uma organização Portuguesa de conservação do Lobo, o Grupo Lobo, está a incentivar os agricultores a regressar aos métodos tradicionais e comprovados pelo tempo e ao trabalho com os cães raros, que ferozmente protegem os rebanhos sob os seus cuidados e afugentam os lobos, atacando-os.

Desde 1988 que é estritamente proibido matar ou ferir os lobos.
No entanto, os lobos continuam sob ameaça constante, muitas vezes de agricultores desesperados que recorrem a meios desesperados.

Cerca de 300 lobos ibéricos (Canis lupus signatus - uma sub-espécie ligeiramente menor que o lobo cinza Europeu) sobrevivem nas terras altas do norte e centro de Portugal.

"Estamos a incentivar os agricultores a utilizar os tradicionais cães de guarda mais uma vez, não só para reduzir os ataques de animais, que vão ajudar os agricultores a tolerar melhor o lobo, mas também para trazer essas raças de cães tradicionais portugueses de volta da beira do abismo", explica Sílvia Ribeiro, uma bióloga integrada no projecto de conservação.

Raças de cães como o de Cão Castro Laboreiro, Cão da Serra da Estrela e o Cão de Gado Transmontano foram altamente valorizadas no passado pelo seu instinto de protecção e capacidade inata de se relacionarem fortemente com os animais sob os seus cuidados.

"O seu comportamento é bastante diferente do dos cães de pastoreio. Faz parte do seu carácter a criação de um vínculo com seu rebanho e o instinto de o proteger ferozmente," diz Sílvia Ribeiro.
"Eles estão sempre activamente a olhar para todo o lado, a farejar sinais de perigo e atentos ao gado que apresenta sinais de aflição”.

Ela diz que, em caso de ataque, os cães posicionam-se entre o rebanho e o lobo, ladrando e perseguindo o lobo até este se afastar. O
seu sentido de olfacto é tão apurado que pode até mesmo distinguir as cabras do seu rebanho das de outro.

Para os criadores de animais, tais como Alfredo Gonçalves, que guarda 450 cabras na orla do Parque Nacional Peneda-Gerês, o projecto está a revelar-se eficaz.

"Eu perco cerca de 80 caprinos por ano para os lobos", diz ele.

"Inspectores do governo vêem e avaliam as mortes e somos pagos pelo nosso gado perdido, mas muitas vezes esperamos um a dois anos, que é um tempo de espera muito longo, especialmente neste clima económico".

O Sr. Gonçalves diz que está completamente disposto a conviver com os lobos, mas os seus ataques têm um impacto sério para os agricultores que ganham muito pouco.

O seu rendimento mensal pequena de cerca de € 500 depende em grande parte na venda de cabritos para consumo.

Para ajudar a reduzir os ataques de lobo, o Grupo Lobo deu-lhe um cão de Castro Laboreiro com dois meses de idade chamado Tija, há 18 meses.

Os agricultores que participam no projecto recebem um cão sem custos, mas assinam um contrato rigoroso, concordando com a sua formação, com o modo como será tratado e usado, e a concordar que tem de se submeter à inspecção regular e acompanhamento pelo Grupo Lobo.

Até agora, 300 cães foram colocados com 170 criadores de gado.

Tija vive agora com as cabras de Alfredo Gonçalves, dorme com elas num armazém à noite e permanece com o rebanho enquanto este pasta nas montanhas diariamente. A
sua raça vem de uma aldeia no norte do parque nacional e já foi usada na área, mas actualmente é muito rara.

O vínculo que os cães criam com o rebanho que está sob os seus cuidados é tão forte que os biólogos do Grupo Lobo relatam que cadelas chegam a abandonar as suas próprias crias para amamentar os cabritos recém-nascidos.

Um cão surpreendentemente gentil e amigável, Tija é claramente valorizada pelo Sr. Gonçalves que recentemente pediu aos membros do grupo de conservação para lhe fornecer um segundo cão de guarda.

"Em cada ataque dos lobos, costumo perder um ou dois bodes", diz ele.

"Às vezes, quando o rebanho está a pastar e pequenos grupos de lobos atacam, podemos perder 10 ou mais animais. É devastador. Mas desde que a Tija chegou, as mortes de cabras reduziram um quarto desse valor.”


Para garantir uma protecção total para um rebanho de 500 animais, são necessários três ou quatro cães de guarda, mas alguns agricultores têm sido relutantes em assumir os novos cães e todos os custos e esforço envolvidos.

"Não tem sido simples convencer os agricultores," diz Sílvia Ribeiro.
"Eles ainda estão a ter que adaptar-se ao lobo ibérico como uma espécie protegida."

Após centenas de anos a ser visto como uma praga, é difícil mudar os comportamento, assume.